Em um mundo cada vez mais acelerado e digital, encontrar espaço para valorizar a beleza das palavras parece, muitas vezes, um desafio. É por isso que livros como O Colecionador de Palavras, de Peter H. Reynolds, se tornam tão especiais. Publicado originalmente com o título The Word Collector, o livro apresenta ao leitor um personagem encantador chamado Jerome — conhecido em algumas traduções como Lucas —, um menino curioso, sensível e apaixonado por palavras. Ele não apenas as aprende; ele as guarda, cuida, organiza e, principalmente, as aprecia.

Desde pequeno, Lucas percebe que as palavras possuem algo mágico. Ele coleciona palavras de todos os tipos: pequenas como “sol”, engraçadas como “picles”, poderosas como “liberdade” ou delicadas como “esperança”. Usa cadernos temáticos para agrupá-las, como se fossem verdadeiros tesouros — e, de fato, são. Cada palavra representa uma emoção, uma possibilidade de comunicação ou de criação. Ao apresentar essa prática de colecionar palavras, o autor convida os leitores a observar o mundo com mais atenção e sensibilidade, percebendo a riqueza que existe na linguagem que usamos todos os dias.

A narrativa toma um novo rumo quando Lucas, ao caminhar com sua coleção, tropeça e vê suas palavras voarem pelos ares. No início, isso parece um desastre. Mas ao tentar organizá-las novamente, o menino começa a experimentar novas combinações. Mistura palavras de diferentes contextos e fica encantado com os significados inusitados que surgem. Ele descobre, assim, o poder criativo da linguagem — como juntar palavras pode gerar poesia, música, emoção e entendimento. Esse momento é um ponto de virada na história, pois transforma a relação do menino com sua coleção: antes um acervo pessoal, agora uma ponte para compartilhar ideias com o mundo.

Inspirado por essa descoberta, Lucas decide fazer algo ainda mais grandioso: sobe até o topo de uma montanha e solta suas palavras ao vento, deixando que voem e cheguem a outras pessoas. As crianças no vale correm para pegá-las e, assim, cada palavra encontra um novo lar, um novo sentido, uma nova voz. Esse gesto de entrega e generosidade é o ápice poético da obra. Lucas se emociona, e o livro termina com uma frase poderosa: “Ele não teve palavras para descrever a felicidade que sentiu.”

Quem é Peter H. Reynolds?

Peter H. Reynolds é um autor e ilustrador canadense-americano renomado por suas obras infantis que promovem a criatividade, o pensamento positivo, a empatia e a expressão pessoal. Ao lado do irmão gêmeo, Paul Reynolds, fundou o estúdio FableVision, voltado para criar histórias e conteúdos educativos que inspirem jovens e educadores.

Reynolds é amplamente conhecido por seus livros O Ponto (The Dot) — uma homenagem à coragem de começar algo novo, mesmo com medo de errar — e Ish (traduzido como Mais ou Menos ou Mais ou Menos Assim), que celebra a liberdade de expressão artística. Seus livros são utilizados em escolas ao redor do mundo, pois combinam uma linguagem simples com mensagens profundas e transformadoras.

Em O Colecionador de Palavras, Reynolds continua sua missão de incentivar a expressão criativa, mostrando que a linguagem é uma ferramenta poderosa para conexão e transformação. Suas ilustrações aquareladas, delicadas e cheias de movimento, ajudam a contar a história com emoção e leveza, tornando a leitura ainda mais envolvente para crianças e adultos.

Mais do que um livro infantil, O Colecionador de Palavras é uma carta de amor à linguagem. Ele ensina, de forma lúdica e poética, que as palavras são mais do que ferramentas para comunicar — são pontes entre pessoas, expressões de quem somos e sementes de mudança. Em um mundo onde o diálogo precisa ser incentivado e a escuta, valorizada, obras como essa mostram às crianças que suas vozes importam.

Ao colecionar palavras, Lucas nos ensina que cada termo tem um peso, uma história e uma possibilidade. E que, ao libertá-las e compartilhá-las, criamos algo que vai além do vocabulário: criamos conexão.